Acho mesmo que sou privilegiada, não porque tenha dinheiro que nunca mais acaba mas porque tive oportunidades que outros gostavam de ter tido. Felizmente tive pais que sempre colocaram a nossa educação como prioridade, no básico andei numa escola privada, porque era a melhor forma de garantir que não ficava um, dois ou até os três períodos sem professor de matemática português ou qualquer outra disciplina. Eu acho que foi uma boa decisão para criar bases e hábitos de estudo. No secundário fui para a escola pública, a nível de qualidade não é que seja muito diferente mas é preciso sorte com os professores e a minha escola até estava bem posicionada no ranking nacional. A ideia sempre foi essa, ir para o privado apenas para ter as bases e depois público, porque não somos ricos.
Até que chegou um dia em que decidi “Vou tirar biologia marinha nos Açores e estudar tubarões brancos”, ainda estava eu para aí no nono ano. Os meus pais decidiram não me contrariar. Nunca perguntei mas acho que eles pensaram que entretanto mudaria de ideias… Até que chegou o momento de fazer candidaturas para as Universidades e lá acabei por ir para os Açores fazer Biologia Marinha. Apesar de hoje não estar a trabalhar no ramo marinho, não me arrependo nada de o ter feito! Porque foi graças a ter ido para esse curso e ter os professores que tive que me apaixonei por Microbiologia e Genética, que fiz um estágio que achei que pior não podia ter sido mas hoje vejo que se calhar foi o melhor que me aconteceu. Até o facto de estar longe de casa e dos amigos foi bom, fez-me crescer.
Ainda tenho presente na memória o dia em que cheguei a Lisboa após a defesa da tese de estágio, vinha com o meu pai e a minha mãe foi-nos buscar ao aeroporto, tinha um ramo de flores e estava com lágrimas nos olhos, eu disse “não precisas chorar” e ela respondeu “Estou a chorar de felicidade, acabaram-se as despesas todas contigo”, mal ela sabia…
Anos depois, a pensar que não iria ter futuro em Biologia, apareceu a oportunidade de vir para Amesterdão fazer um estágio como convidada e, eventualmente, poderia surgir um contrato.
Suei, semanas sem folgas, chegar cedo e sair tarde, supervisionei aulas práticas e estágios, ajudei a organizar e manter o laboratório e assim criei o meu lugar aqui. Escusado será dizer que sem a ajuda financeira dos meus pais isto não tinha acontecido, mas também por isso a minha mãe me disse “É bom que só vivas para o laboratório” (eu sei que era meio a brincar meio a serio…).
Por isso sim, fui privilegiada, sempre vivi numa casa em Benfica porque ou se apostava em educação ou mudávamos de casa, mas isso são pequenos detalhes, até porque adoro a casa de Benfica, onde fui muito feliz, nunca passei fome. Mais importante do que tudo isso, foi-me dada a oportunidade de seguir os meus sonhos e fazer o que me realiza e nem toda a gente pode dizer o mesmo.
Obrigado, sou privilegiada com muito gosto, mas não o tomo por garantido, dou muito valor a isso e sei que quando puder retribuirei…
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