Das decisões que tomamos do nada

Estava eu, há umas semanas, a vir para casa de bicicleta e dei por mim a pensar nos tratamentos de fertilidade. Tinha tido a primeira consulta pré-tratamentos e vinha a pensar que não queria fazer punções, que não queria fazer FIV (fertilização in vitro). A Bia foi concebida à terceira sessão de IIU (inseminação intra-uterina) e nós temos oportunidade de fazer 6 sessões. Se não acontecesse, não acontecia.

Entretanto sigo um blogue de uma mulher que andou nos trâmites da infertilidade anos, sem sucesso e decidiu que para ela chegava. A quantidade de pessoas que lhe disse para não desistir, que ela tinha de continuar, que poderia ser no próximo tratamento... Chateou-me, incomodou-me! A sério! É nestas alturas que devemos apoiar os outros ou não?! Não seria a hora de lhe dizer que ela é uma mulher forte, que fez tudo o que conseguiu, que lhe desejamos as maiores felicidades e força numa fase que, deduzo, não seja fácil?!

Eu percebi que era incapaz passar anos nisto. Passei 3 meses para ter a Bia e digo-vos que, tendo sido levado com algum humor e leveza, não é algo fácil, não é prazeroso, é desafiador, é demasiado controlador, é uma valente bosta. E sabem que mais? Não há problema nenhum em decidir que não queremos mais, em delinear um limite, só porque outros fazem 15 ciclos não quer dizer que nós tenhamos de fazer o mesmo ou mais!

É uma pena a infertilidade deixar tanta gente desconfortável. Que casos que acabam sem uma gravidez de termo e um bebé nos braços sejam vistos com maus olhos e algo que se deva esconder. Que não se consiga aceitar e apoiar quem chegou ao seu limite.

Como em tudo, julga-se demais sem se compreender!




3 comentários:

  1. No nosso caso a FIV foi mesmo a melhor solução, de ânimo leve conseguimos à primeira tentativa, e acredita que depois e tantos negativos por via natural eu já estava prestes a desistir... sofri bastante com pressões da sociedade, ora porque eu já estava a ficar velha ora porque não íamos aos treinos, fizemos o tratamento quase em segredo, só a minha mãe e iramos souberam e tudo correu bem. Acreditas que tenho saudades da FIV? Só não volto a fazer porque a doença não deixa...

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  2. Acredito que não houvesse julgamentos com caráter penalizador. Era uma forma de me tentar transmitir força para não extinguir aquela esperança que esmorecia a cada tentativa falhada porque, na grande maioria das pessoas que me apoiou, houve realmente sucesso. Só que este não é absoluto e ninguém o consegue garantir. Penso que parte dessa pressão teve como origem o acompanhamento da minha história apenas a partir de uma determinada etapa, sem ter lido tudo desde o início. Não condeno quem não tenha feito a leitura integral, porque a história é extremamente extensa, detalhada e repetitiva. O grau de exaustão e desânimo que atingi fez-me pôr em causa o sentido do que andei a fazer anos a fio. Olhei para mim como se estivesse a observar-me fora do meu corpo e vi uma vida desconexa. Não me identificava com o que estava a assistir. Temi no que a minha vida se poderia transformar. Tive o apoio do meu marido para continuarmos enquanto eu conseguisse suportar. Tudo falhou, a cada "pancada" que levei. Não vou estar com floreados, o tapete foi-me arrancado de cada vez que restabeleci forças. Por mais pormenorizadas que tivessem sido as descrições, ninguém consegue realmente sentir tudo o que aconteceu, nem o meu marido que lidou comigo todos os dias. Como era suposto acontecer, pois tratava-se da NOSSA vida, decidimos conjuntamente que era chegada a hora de parar.
    Estranho a falta de empatia que existe por quem decide parar. Não me refiro a quem acompanhou o blogue. Noto isso noutros locais e descartei-me concretamente de um espaço onde percebi claramente quão incomodativo isso é. Outra coisa que possivelmente terá causado pensamentos descriminatórios foi a não opção por ovodoação ou adoção de uma criança. Nunca indiquei os múltiplos motivos que nos levaram a não enveredar por essa via, nem o vou fazer. Não foi uma decisão tomada enquanto estávamos a andar de elevador. Muito antes de me perguntarem se conhecia ovodoação ou se a adoção estava nos nossos planos, as conversas em casal sobre essas temáticas já tinham acontecido. Mesmo agora quando parámos, tornámos a abordar o assunto e tendo em conta as nossas circunstâncias, continuámos determinados de que não fariam parte do nosso caminho.
    Nunca tive problemas em dizer que sou infértil e não tenho de andar complexada em assumir que parei de tentar ser mãe, com toda a consciência.

    Obrigada por compreenderes e saberes colocares-te no lugar do outro.

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    1. Acho que houve mais pessoas que concordaram com o meu comentário no teu blogue. Talvez por te seguirmos há mais tempo, talve porque quando lá cheguei já a história ia semi-longa mas dei-me ao "trabalho" de ler um pouco mais.
      Eu sei que as pessoas não fazem por mal, nunca fazem, nem quando perguntam "então quando vão ter filhos?", não quer dizer que não moa ou magoe...
      Eu acho impressionante a força de mulheres como tu! Como outras que segui e tiveram desfechos diferentes, anos de infertilidade eu acho que não aguentava, mas eu sempre quis adoptar por isso tinha um plano B desde o início e só não foi plano A porque o Ricardo não queria.
      A opção de não adoptar é nossa! Não nos torna piores ou melhores pessoas, não é, de facto para toda a gente. O Ricardo não quer, tem receio, tal como ser família de acolhimento ele não quer por ter receio de se apegar à criança e ela ir embora, ou de não conseguir ser imparcial entre essa criança e os nossos filhos biológicos. Não temos de justificar tudo o que fazemos e conhecendo o que conheço de ti sei que as tuas decisões foram com certea bem pensadas e analisadas porque me pareces uma pessoa ponderada e que não toma decisões grandes de ânimo leve.
      Obrigada pelas partilhas, acho mesmo mesmo importante que se partilhe! Acho importante que continues a partilhar conosco o depois, porque há vida depois dos tratamentos e muita gente pára de escrever (não julgo, percebo mesmo) mas é bom ver que, se não der certo, podemos lutar por nós, pela nossa felicidade e que ter um filho não precisa de nos definir!
      Beijinho enorme!

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