Questionar quem sou após a maternidade

Não tive, não tive esse momento de me questionar quem sou agora, quem sou para além da mãe da Beatriz? Não sei se foi porque ela foi planeada, se é a minha veia de cientista que tem de saber tudo, mas eu preparei-me mesmo para isto. Eu sabia que o corpo muda, a vida muda. Foi uma decisão consciente, ponderada!
Não me custa não ter tempo para treinar mais, porque é opção minha não o fazer para estar com ela e com o Ricardo. Não me consome acabar por ficar mais por casa para manter as rotinas dela e ter de escolher os timings para sair de casa. Não é o fim do mundo demorar mais de 5 minutos para sair de casa porque tenho de a preparar a ela e certificar-me que tenho tudo o que preciso e mais alguma coisa.

Eu continuo a ser a Vera de sempre, que passou também a ser mãe, claro que implica mudança, claro que implica alterar prioridades, mas quando pensei em ter um filho já sabia disso, não foi um choque!
Não tive nenhuma dúvida existencial.

Claro que há momentos que questiono se estou a fazer o melhor para ela, se sou boa mãe, mas isso é por ela e não por mim (não sei se me faço entender). A única coisa que me apoquenta é não ser capaz de controlar o que vai acontecer. Já me aborrecia antes porque sou uma control freak mas neste caso é mais extremo. Não quero mesmo que ela morra, fique gravemente doente, nem doente de todo quanto mais. Não quero que lhe façam mal, que seja gozada, que lhe partam o coração, que lhe digam que não pode ser o que quiser porque "não é uma profissão de mulheres". Por outro lado, sei que não posso mesmo controlar nada disso, então trabalho para que a falta de controlo sobre o futuro dela não me consuma nem controle o meu presente...

O corpo mudou, um bocadinho, mas não é o fim do mundo, não me chateia mais do que antes. Já antes não gostava particularmente dele (culpa minha) e agora só há outras coisas que não gosto, maioritariamente nem posso fazer nada, tipo cicatrizes que fizeram colóide... Mas isto tudo nunca me fez ter um momento de dúvida existencial, de introspecção de quem sou eu, porque eu, na minha essência, não mudei! Continuo fiel a mim mesma, aos meus princípios, valores, moral, EU não mudei! Apenas acrescentei algo à minha vida cuja única e espectacular coisa que fez foi trazer-me amor incondicional e a certeza de que, ser mãe, era o que faltava à minha vida para ter ainda mais sentido!

Acredito que nem todas as pessoas sintam o mesmo e não são piores ou melhores que eu ou alguém, é o que sentimos ponto final. Há quem tenha mais dúvidas, quem sinta as mudanças de forma mais ou menos intensa. Não há certos ou errados.


8 comentários:

  1. Adorei este post pela honestidade e consigo me identificar muito com ele, se não totalmente. Agora as inseguranças são outras,e viras para os filhos e na responsabilidade que temos de os fazer felizes e estáveis...

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  2. Por aqui sinto o mesmo que tu, so gostava mesmo de ter mais energia para o acompanhar... e que tudo corra bem nesta volta aos medicos...

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  3. Apesar de ter sido uma decisão muito consciente e planeada, tinhas dúvidas antes de ela nascer? Perguntavas-te até que ponto te ia afectar e fazer mudar?

    Eu também olho para a maternidade de uma forma bastante racional, mas acho que nada nos prepara para a verdadeira realidade...

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    1. Oh minha querida, dúvidas até ela nascer e ainda hoje eu tenho, muitas, todos os dias me pergunto se estou a fazer tudo bem para ela ser feliz e independente mas também aprendi que faz parte!
      Mas se achava que ME ia mudar, sinceramente, acho que não... Sabia que ia mudar a minha vida, preparei-me como dava e vivi bem com um certo grau de incerteza (tem de ser que não há hipótese). Quando ela fez 1 semana saímos de casa os 3 e não te sei explicar mas senti como se aquilo fosse totalmente natural, como se fosse super familiar passear com ela (não sei explicar bem).
      Mas sempre achei que iria continuar a ser eu mesma e que qualquer concessão que fizesse seria porque eu queria. Eu posso ir ao ginásio todos os dias se quiser mas opto por não o fazer, é uma decisão minha que claro que é consequência de ter tido um filho e querer passar tempo com ela e com o Ricardo, mas não é por isso que deixa de ser uma decisão minha nem significa que perdi a minha essência... Percebes o que quero dizer?
      Espero que tenha respondido ao que querias saber... Se não respondi pergunta de novo ahahah

      Agora também não posso deixar de admitir que a miúda até é fácil, dormia relativamente bem, a amamentação até correu bem (após uma semana de alguma dor e adaptação), tudo o resto eu estava preparada para ser o pior possível (más noites, cólicas, fraldas, horários, alterações físicas) e, apesar de não conseguires estar 100% preparada para o que não conheces, as hormonas ajudam imenso e quando te sentes mal falar com alguém, quando estás indecisa falar com alguém.
      As minhas melhores amigas deram-me 2 mantras, um cada uma, "confia nas tuas maminhas" e "ninguém a conhece/conhecerá melhor do que tu".
      Recorri à ajuda de uma amiga que é psicóloga infantil, por causa do sono e por causa da ansiedade de separação acentuada e ajudou-me imenso, resolvemos tudo em poucas semanas... Tudo se resolve, tudo passa e não tens de te sentir perdida pelo caminho.

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    2. Respondeste e muito :) Obrigada!

      Acho que é essa clareza de raciocínio que falta muitas vezes... Por um lado, muita ingenuidade, por outro, pouca racionalidade para olhar as coisas como tu olhas.

      Quando lá chegar, volto a chatear-te :)

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