Parentalidade positiva e não permissiva

Já todos ouvimos falar em parentalidade positiva e há uma tendência para que se confunda com parentalidade permissiva.

Ao contrário do que muitos acham ou até aplicam, na parentalidade positiva não há castigos mas há consequências. A diferença é que tem de fazer sentido "se não comeres os vegetais não comes fruta" por exemplo é uma consequência mas "se não comeres os vegetais não vês televisão" não é consequência.

Na parentalidade positiva há o respeito pelo outro, mesmo quando se diz que não. Eu digo muitas vezes à Bia "eu sei que querias o casaco x, mas não pode ser porque está frio e tem de ser um mais quente". Claro que nas primeiras vezes ela fez birra e foi com o casaco quente na mesma mas agora se lhe digo que não pode ser porque está frio ela aceita perfeitamente bem (na maioria dos dias).
Bater não se faz! Se não batemos em adultos porque não fazem o que queremos porque havemos de bater em crianças? Ensinar a uma criança que algo não se faz, fazendo não vai levar a respeito mas sim a medo e a ensinar exactamente o oposto do que queremos. Se não se bate porque é que me estão a bater? Sim, a Bia já me puxou os cabelos, ainda ontem, vinha possuída porque não a deixei fazer algo e quando chegámos a casa e ela viu o pai pimbas de me puxar o cabelo. Pedi ao Ricardo que se fosse embora e resolvi a coisa com ela, fui com ela para o quarto dela depois de descalçar os meus sapatos e os dela (tinham lama), consegui tirar os meus cabelos da mão dela perdendo apenas meia dúzia e falei com ela com calma, ela acabou por me dar um abraço e quis ficar ao meu colo. Nem sempre é fácil, mas acredito que é melhor do que lhe bater! É preciso tentar perceber de onde vem a frustração, tentar redireccionar, ir experimentando o que funciona, tentar antecipar (ao fim de algum tempo e experiência é possível evitar) e fazer o melhor que pudemos! Às vezes é surpreendente, uma manhã quase toda ela uma birra pegada e quando já não consigo mais peço "por favor podes dar-me 5 minutos de paz e sossego?" e ela responde "OK" ou quando quis uma banana no supermercado mas era quase hora de almoço, disse que não e expliquei, passou-se, continuei a fazer as compras ali à volta dela (há alturas em que o melhor é mesmo dar espaço) até que se calou, fui falar com ela que me pediu banana a choramingar e eu disse "vamos para casa almoçar e depois dou-te uma banana ok?" "OK" respondeu ela.
Nem sempre é fácil criar limites de forma positiva, é difícil ser coerente mas quando dizemos não temos de o manter por isso é importante analisarmos bem ao que estamos a dizer não e porquê. Tem de fazer sentido senão um dia dizemos não e no outro dizemos sim e fica confuso perceber.

Acima de tudo é tentar o nosso melhor sabendo que se um dia perdermos a cabeça e dermos um berro não passámos a ser os piores pais do mundo. Também os temos de educar para perceberem que não são o centro do mundo, nós, pais, também temos limites e necessidades e eles irão perceber isso a seu tempo.

8 comentários:

  1. Por aqui tentamos por isto em pratica mas acredita que com a idade se torna mais dificil... nao podemos desistir, temos é de arranjar maneiras de dar a voltam, e na minha idade as energias falham muito. Estou aqui a recuperar dde uma birra que quase deitou o predio abaixo, so porque nao queria tomar o pequeno-almoco para ver a tv... conclusao, tv desligada, muito choro de ambas as partes para aliviar, comeu metade da papa com mirtilos e fomos para o quarto desanuviar com os carros e legos... so de pensar que esta fase do quero, posso e mando atenua depois dos 5 :/ O mais incrivel é que ele na creche faz tudo o que lhe mandam... acho que em casa se sente mais à vontade :/

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Li que melhora muito a partir dos 3 anos e meio. Eu noto que resulta bem a Bia mas lá está, eles todos são diferentes e há dias em que é uma manhã inteira a fazer "tudo mal"...
      Força que há dias melhores!

      Eliminar
  2. Nem imagino o difícil que seja todo o exercício da educação... Mas tenho uma dúvida, a partir de que idade funciona essa via da explicação/argumentação?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Na teoria a partir dos 4 anos mas na realidade eu noto que funciona muitas vezes por isso acho que os princípios devem ser aplicados desde "sempre" tendo em conta a idade. Negociar ainda não funciona bem mas ela percebe que se manda comida para o chão não lha dou até que se acalme (já consigo anteceder e não vai parar ao chão), acho que falar com ela e explicar funciona mesmo bem! A partir dos 2 anos funciona melhor e claro que ela continua a testar limites mas acho que respeito, compreensão e valorização do outro serão sempre bons ideais a passar, seja em que idade for.

      Eliminar
    2. Acho que o que dizes no final, diz tudo :)

      Eliminar
    3. :) pois... podia ter-me ficado por uma frase :p

      Eliminar
  3. Este texto é delicioso. Quando leio algo assim só consigo sentir admiração por qualquer pai porque só ser pai é tão difícil e especial. Parabéns e força! **

    ResponderEliminar